1 de fevereiro de 2009

Dupla convicção para defender o desarmamento

Em entrevista exclusiva para Pressenza, realizada logo após encontro com Michelle Bachelet, no dia 28 de janeiro, o porta-voz do Humanismo na América Latina, Tomás Hirsch conta os detalhes da adesão da presidente e as propostas de ação e difusão da Marcha Mundial junto ao governo chileno. Ele comentou que Bachelet se mostrou muito empolgada a participar ativamente da marcha e que como uma das poucas mulheres presidentes do mundo e ainda como filha de militares, ela expressou uma dupla convicção para difundir as propostas de paz mundial e desmantelamento dos arsenais nucleares.

Pressenza: Qual foi a posição da presidente Bachelet diante do convite de aderir à Marcha Mundial pela Paz e pela Não-Violência?

Tomás Hirsch: A presidente imediatamente manifestou seu entusiasmo não apenas para aderir, mas também para apoiar e convocar outros para a Marcha Mundial. Expressou claramente sua adesão e se ofereceu para gravar um vídeo para incentivar a participação na campanha. Além disso, ela confirmou que pode receber a delegação da Marcha quando chegar a Santiago no dia 29 de dezembro. Ela também disse que poderá receber o coordenador mundial da Marcha em março, em data a confirmar.

Pressenza: Quais outras propostas que ficaram de desenvolver em relação à Marcha Mundial?

TH: Convidei-a para participar da delegação da Marcha que vai à Antártida. A presidente mostrou muito entusiasmo para fazer esse trecho e disse que iria estudar as possibilidades de agenda. Eu disse que a mãe dela já havia confirmado a participação na delegação e ela se mostrou ainda mais animada em fazer o trajeto em família.Também a convidei para subir o trecho final desde Santiago até o Parque de Vacas na Cordilheira. Além disso, propus a incorporação dos temas da Paz e Não-Violência na comissão Bicentenário, justamente quando vai entregar o cargo em 2010.

Pressenza: Como vê a importância de a presidente Bachelet participar da Marcha Mundial?

TH: Sua adesão é tremendamente importante, em primeiro lugar, porque é uma das poucas presidentes mulheres no mundo e a primeira eleita no Chile. Ela diz que como mulher se sente muito motivada a defender a paz e a não-violência. Em segundo lugar, porque ela é filha de militares e conhece muito bem a questão por dentro. Por isso, disse que sente uma dupla convicção de desmantelar todo o risco de guerra e de utilização de armas nucleares. Ela está muito consciente que na América Latina o tema nuclear está pouco assumido e compreendido. Por isso, quer ajudar a gerar consciência sobre a importância de desmantelar os arsenais nucleares.

Pressenza: Além disso, acredita que seu apoio vai incentivar que outros presidentes da América Latina também participem?

TH: Não tenho dúvida de que sua adesão vai contribuir para que outros presidentes da região, com os quais temos agendadas reuniões nos próximos meses, também apoiem a Marcha Mundial. Por exemplo, Bachelet estava muito motivada em fazer algo conjunto com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Até lembrou que elas já têm agendado um encontro em dezembro desse ano para comemorar os 25 anos do tratado de paz entre Argentina e Chile. Ela deve considerar o encontro como uma oportunidade para uma ação conjunta entre as presidentes dos dois países em relação à Marcha.

Pressenza: O que o governo do Chile tem a ver com o tema nuclear?

TH: Hoje em dia, nenhum país do planeta escapa do perigo nuclear. Sabemos que há máfias, como na extinta União Soviética, que comercializam elementos para a fabricação de armas nucleares. E a presidente Bachelet compartilha a mesma preocupação. Apesar de a América Latina ter sido o primeiro continente declarado como zona livre de armas nucleares, por meio do Tratado de Tlatelolco, hoje em dia temos submarinos norte-americanos e russos navegando pela região, com a possibilidade de transportarem armas nucleares. Por isso, falamos com a presidente da importância de fortalecer o tratado.

Pressenza: Será realizado algum trabalho junto ao Ministério da Defesa do Chile?

TH: Já estamos trabalhando com o ministério, especificamente com a subsecretaria de aviação, que ofereceu apoio para levar uma delegação da Marcha Mundial para a Antártida. Essa é uma iniciativa que a mim pessoalmente me entusiasmou muito, tanto é que me inscrevi para participar deste trecho. A ideia é levar representantes do governo, a própria presidente, sua mãe, e membros de organizações e meios de comunicação. Antártida é um continente declarado como livre de armas e de exploração comercial. É muito bom que por isso esteja presente na Marcha Mundial para dar um sinal claro que irradie suas características para o mundo.

Pressenza: Há alguma proposta para tratar o tema da paz e do desarme com as Forças Armadas?

TH: Ainda com o Ministério da Defesa, temos uma reunião agendada para os próximos dias com o ministro Jose Goñi para propor a realização de um seminário com os altos níveis das forças armadas latino-americanas em conjunto com universidades para tratar do tema do desarme. A ideia é fortalecer ações e propostas para que as forças armadas contribuam para preservar a paz mundial.